Decadência do Catecumenato
Passaram-se o segundo e terceiro séculos período em que o catecumenato atingiu seu apogeu. Todavia, após a paz constantina e com a publicação do Edito de Milão em 313, que deu plena liberdade aos cristãos de praticar publicamente sua religião, celebrar a liturgia e o culto cristão em sua plenitude, o catecumenato entra num processo gradual de decadência.
A aliança entre o poder Civil e o poder Eclesiástico trouxe grandes consequências ao processo da Iniciação à Vida Cristã, dando origem ao tempo da Cristandade, ou seja, quando a maioria das pessoas se tornou cristã, como já citado algo no artigo anterior. Do período que vai do “século V ao sáculo XVI, pode-se dizer que a catequese já não consistia tanto numa iniciação à vida de comunidade de fé, a sociedade inteira se considerava animada pela religião cristã” (CR, n°8), ou seja, ser cristão dava Status. Motivados pelos interesses “casamento” igreja-estado, as motivações para abraçar a fé cristã já não eram mais as mesmas e a conversão que era uma grande exigência para inserir-se ao cristianismo vai perdendo sua relevância. Temos ainda neste período obscuro da Cristandade, outros fatores que contribuíram para o declínio do processo catecumenal, a saber: A catequese se fazia, então, por um processo de imersão nessa cristandade, as pessoas buscavam os sacramentos, mas a experiência e a vida comunitária haviam enfraquecidas. O aprendizado individual foi se acentuando e a catequese passou a se concentrar somente no aspecto da instrução. A Igreja conforme as exigências do tempo, passou a se preocupar com a clareza e a exatidão das formulações doutrinais, e, também por causa das divisões no meio dos cristãos, no tempo da reforma protestante.
Com a descoberta da imprensa e a difusão das escolas, concentraram a catequese nos textos para o ensino, que ficou conhecido como catecismos. Sendo assim, após o Concílio de Trento (1545-1563) a Igreja, elaborou um catecismo, a ser utilizado pelos párocos, que por sua vez se tornou referência oficial da fé. Surge o catecismo de São Pedro Canísio, em (1555), e o de São Carlos Borromeu, em (1566), e o de São Roberto Bellarmino, em (1597). A centralidade destes catecismos está no conhecimento da doutrina da fé, na instrução moral, na celebração dos sacramentos e nas orações cristãs. Numa época de confusão doutrinal, a Igreja encontrou nos catecismos, uma maneira clara e pedagógica de apresentar os principais ministérios da fé cristã. Outro fator foi a Influência do iluminismo, este movimento cultural pregava que a inteligência humana, devidamente instruída, era capaz de encontrar sozinha a solução de todos os problemas referentes à humanidade (cf. CR, nn° 10-13). Surge então, o catecumenato social, onde a comunidade cristã e a própria sociedade (ou civilização cristã) exerciam seu papel de transmissão da fé, restando à Igreja, a preocupação com a instrução doutrinal, isto é, a catequese.
Aos poucos a Igreja foi perdendo aquela organização vital, o acento da Iniciação à Vida Cristã passa ser vista em uma preparação rápida para a recepção dos sacramentos, quem pedia o batismo tinha uma formação sintetizada em detrimento ao processo catecumenal (cf. João Fernando Reinert. Paróquia e Iniciação Cristã, pg, 53). A caminha catecumenal de três anos se reduz ao tempo quaresmal, dando maior relevância a uma catequese intensiva sob a responsabilidade dos presbíteros e bispos, diminuindo assim, a importância dos ministérios dos leigos.
Com o Declínio do processo, no tempo da cristandade, houve uma dissociação na celebração dos sacramentos da Iniciação Cristã, eixo central para a Igreja dos primeiros séculos. “O batismo de crianças se tornou prática comum, desligando-se de sua relação com a Crisma e a Eucaristia”. O processo catecumenal é substituído pela sacramentalização, ou seja, aquele modelo de catequese que conduzia a pessoa a aprofundar-se plenamente no mistério de Cristo desaparece, dando lugar a uma catequese em vista da recepção dos sacramentos, comprometendo também a relação liturgia e catequese, que no século VI desaparece quase que por completo. Com o surgimento das devoções aos santos, o povo passou alimentar sua fé nas peregrinações, nas penitências, nas novenas e nas orações decoradas. O povo já não tinha mais acesso a Bíblia, era “proclamada somente nos sermões, encenada ao longo das procissões e festas e representada na pintura, na escultura, no teatro, nos cantos e nas narrativas populares” (Doc,107, n°44).
Era uma catequese da piedade popular. Enfim, ao longo do tempo, fomos perdendo a ligação com o processo da Iniciação numa cultura quase pós-cristã. Hoje a Igreja, se vê diante de um grande desafio, que é o de resgatar a Iniciação Cristã, para formar cristãos que realmente se comprometem com o projeto do Reino. Voltar às fontes’ não é afastamento das situações concretas de hoje, mas a busca de uma nova base para enfrentá-las.
Aparecida Peixoto da Silva
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Ops...
Você precisa estar autenticado para enviar comentários.